Terminado que está o Campeonato da Europa, Rui Miguel Tovar fez um balanço da competição que teve lugar na Alemanha. Tovar destacou o futebol praticado por Áustria, Suíça e Espanha, das poucas equipas que contribuíram para o espetáculo de um torneio que, segundo o mesmo, não irá ficar na memória.
Surpresas
Em termos coletivos, Rui Tovar enumera três seleções que lhe surpreenderam ao longo do Campeonato da Europa, cada uma à sua maneira.
"A Áustria é uma equipa modesta mas joga bem, não se remetia apenas à defesa, e o jogo contra os Países Baixos promoveu isso mesmo; ganharam 3-2 e estiveram sempre à procura do golo e isso é estimulante para quem passou o Europeu a ver muitas equipas a jogar à defesa e a tentar anular o adversário".
"A Suíça foi também uma equipa muito simpática; teve muito mérito ao eliminar a Itália e empatar com a Alemanha, sempre a jogar ao ataque e não se esconder. Praticou um futebol muito interessante, tive pena que tivesse sido eliminados nas grandes penalidades".
"Gostei também da Geórgia. Uma equipa muito limitada, a última a qualificar-se para o Euro, a teoricamente mais fraca, com o treinador mais mal-pago. Tinha jogadores interessantes e a sua dinâmica de jogo tinha obrigatoriamente de ser aquela, caso contrário não iriam longe. Ganharam a Portugal, passaram a fase de grupos, estiveram alguns minutos a ganhar à Espanha, e há muito mérito nisso".
No que toca a individualidades, o jornalista destaca três jogadores que lhe saltaram à vista: um por um belo lance de espontaneidade criativa, outro pela sua capacidade de equilibrar a sua equipa em todos os momentos do jogo, e finalmente um terceiro que, apesar de não ser titular, fez a diferença cada vez que entrava em campo.
"O Kvaratshkelia, da Geórgia. Aquela tentativa de golo antes do meio-campo contra a Espanha, para mim, justificava a viagem, o bilhete, tudo! Gostei muito, e adorei ver a repetição; é daqueles lances dos quais vale a pena ver muitas repetições, foi um gesto muito inteligente".
"O Rodri, da Espanha. Fez-me lembrar o Marcos Senna na seleção espanhola de 2008, que na altura foi eleito para a equipa ideal desse Europeu. É bom ter um jogador que saiba jogar à bola, que saiba construir e destruir, principalmente quando o resto da equipa está balanceada para o ataque e tem muita qualidade no ataque com jogadores como o Dani Olmo, o Lamine Yamal ou o Nico Williams".
"Gostei muito do Niclas Füllkrug. Não era titular, mas quando entrava fazia sempre estragos; é um jogador interessante, apesar de já ter 31 anos. Passou um pouco ao lado de todos nós nos últimos anos, e de repente mostra-se como um elemento muito válido quando saltava do banco; teria sido interessante vê-lo a titular. Como seria a Alemanha se o Füllkrug fosse titular?"
Desilusões
Em todas as competições, para além das grandes surpresas, existem também as grandes desilusões. Do ponto de vista coletivo, Rui Tovar aponta um crónico favorito, o antigo campeão da Europa, e até um dos finalistas deste Europeu.
"Na fase de grupos foi a Inglaterra. Estava à espera de muito mais; desde o primeiro jogo pensei que os ingleses não iriam muito longe a jogar daquela maneira...e foi até à final. Às vezes o crime compensa"
"A Itália foi um choque tremendo. A verdade é que olho para a Itália e reconheço apenas um ou dois nomes como jogadores de qualidade. É verdade que no último Europeu a seleção italiana tinha alguns nomes pouco conhecidos, mas aí havia uma Itália diferente, muito mais guerreira e dominadora".
"Nunca vi a França jogar bem. O jogo com os Países Baixos foi o pior do Europeu; o jogo com Portugal foi uma deceção tremenda, esteve muito abaixo daquilo que se pensava. Com aqueles jogadores, a França era uma das maiores favoritas, e nunca comprovou esse favoritismo; pareciam jogadores totalmente alheados, e mesmo assim conseguiram chegar às meias-finais".
Relativamente a jogadores que dececionaram, e para além dos principais nomes da seleção portuguesa, Rui Tovar destaca o nome maior da equipa francesa, cuja prestação no Euro se resume a apenas um lance.
"Mbappé foi sem dúvida uma desilusão. Teve apenas a assistência para o golo diante da Espanha, onde encontrou o colega de equipa no meio dos adversários"
Visão global do Europeu
No computo geral, Rui Miguel Tovar mostrou-se desagradado com o nível de futebol protagonizado pelo Euro 2024, cujos golos e espetáculo foram escasseando à medida que se avançou na competição.
"Eu não gostei deste Europeu. O início foi engraçado, pelo menos nas duas primeiras jornadas, com espetáculo e muitos golos. Mas a partir daí os golos escassearam. A partir dos oitavos houve jogos engraçados, mas faltou bom futebol. Poucos jogos vão ficar armazenados na minha memória para daqui a 10 anos. Mais depressa nos iremos lembrar dos maus jogos do que dos bons".
Em retrospetiva, o Rui Miguel Tovar não consegue destacar uma grande prova internacional que tenha ficado na retina. Tovar utiliza o mais recente Campeonato do Mundo como exemplo de uma possível explicação para a gradual queda da qualidade do futebol praticado, deixando críticas às entidades que regem o 'desporto-rei'.
"Eu não consigo encontrar a última competição futebolística que me entusiasmou. O Mundial do Qatar foi interessante pois os jogadores estavam a meio da época e por isso funcionaram melhor. Não percebo como ninguém da UEFA ou FIFA percebe que esmifrar jogadores nunca vai dar resultado no final de uma época, porque eles vão chegar aos torneios totalmente saturados de estágios, conferências de imprensa, autógrafos, e isso tudo reflete-se no jogo. Hoje os jogadores são máquinas, por isso muitos duram até aos 40 anos; mas fazem 50 jogos por ano e, por muito que queiram ser gloriosos naquele mês, muitas vezes não dá certo. Quando estás cansado as coisas não saem como tu queres, e muitos destes jogadores não descansaram, porque quiseram estar presentes; e isso tudo rouba discernimento e categoria ao espetáculo"
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