
O Benfica sofreu um impacto reputacional “muito grande” e “quase paralisou” com a divulgação de emails confidenciais, destacaram hoje várias testemunhas ligadas ao clube durante o julgamento de Rui Pinto, criador do Football Leaks.
Em nova sessão no Juízo Central Criminal de Lisboa, cinco testemunhas foram hoje ouvidas, todas com ligação, à data dos factos, aos ‘encarnados’, entre as quais o ex-diretor financeiro Miguel Moreira e o antigo diretor de comunicação Luís Bernardo.
“Há todo um impacto reputacional e também económico em relação ao segredo de negócio. É uma vantagem competitiva que se perdia perante os nossos concorrentes. Há ainda um impacto pessoal, para a própria organização, com preocupações futuras informáticas ou jurídicas. É um impacto reputacional muito grande, toda a informação sensível e confidencial estava na posse de terceiros”, contou Miguel Moreira, diretor financeiro do Benfica entre 2007 e 2021 e ex-administrador da SAD do clube lisboeta.
Miguel Moreira considerou que a divulgação dos emails nos blogues e Porto Canal foi “um ataque muito objetivo para denegrir a imagem do Benfica e seus profissionais”.
Luís Bernardo foi diretor de comunicação do Benfica entre 2016 e 2021, destacando a paralisação da atividade do clube durante meses e a criação de um “gabinete de crise”.
“O clube quase paralisou. Aqueles três primeiros meses foram muito difíceis. Foi criado uma espécie de ‘gabinete de crise’. A própria direção paralisou. Tivemos um momento de choque e avaliação, que durou cerca de três meses. Tendo em conta a dimensão e a visibilidade do Benfica, a atenção e instabilidade são enormes”, realçou Luís Bernardo.
O ex-diretor de comunicação lembrou ainda ter sofrido dois assaltos em sua casa nesse período e que a divulgação dos emails pode ainda ter afetado a prestação desportiva.
“O clube ficou um pouco paralisado, porque a sua atividade estava mais centrada nisto. Mudou os seus hábitos e teve reflexos nos resultados desportivos. Após quatro anos seguidos a ganhar, o Benfica estava à frente e começou a perder pontos”, sublinhou.
Além de Miguel Moreira e Luís Bernardo, também o ex-assessor de comunicação Ricardo Maia prestou depoimentos, tal como Elisabete Gomes, controladora financeira na Benfica Estádio, e Maria Eugénia Neves, trabalhadora na mesma empresa do clube.
O atual presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Pedro Proença, ia ser ouvido hoje, mas invocou “razões profissionais” para a ausência, estando agora marcado o seu depoimento para 24 de março, às 14:00, estando a próxima sessão agendada para esta quarta-feira, às 09:30, com a audição do antigo presidente do Benfica Luís Filipe Vieira.
Rui Pinto responde em julgamento por um total de 241 crimes: 201 de acesso ilegítimo qualificado, 22 de violação de correspondência agravados e 18 de dano informático.
Além do Benfica, entre as figuras e instituições visadas encontram-se também outros clubes, Liga, empresas, sociedades de advogados, juízes, procuradores, Autoridade Tributária e Rede Nacional de Segurança Interna.
O criador do Football Leaks foi pronunciado para julgamento em março passado, com o Tribunal Central de Instrução Criminal a amnistiá-lo de 134 crimes de violação de correspondência, com base na aplicação da lei da amnistia aprovada em 2023, durante as Jornadas Mundiais da Juventude, uma vez que os crimes que são imputados foram alegadamente praticados antes de ter completado 30 anos.
Rui Pinto foi condenado no caso ‘Football Leaks’, em setembro de 2023, pelo Juízo Central Criminal de Lisboa, a quatro anos de prisão com pena suspensa, por crimes de extorsão na forma tentada, violação de correspondência agravada e acesso ilegítimo.
Em novembro de 2023, foi também condenado a seis meses de prisão em França, igualmente com pena suspensa, por aceder ilegalmente a emails do Paris Saint-Germain.
Comentários