O conflito entre Israel e a Palestina, ou Israel e Hamas, continua na ordem do dia e já entrou no mundo do desporto. Muito se começa a falar sobre as possíveis repercussões para alguns clubes presentes nas competições europeias e para a seleção, a disputar a qualificação rumo ao Euro 2024.

O SAPO Desporto esteve à conversa com Diogo Soares Loureiro, especialista em direito desportivo, que analisou as possíveis medidas da UEFA e da FIFA caso o conflito continue.

O advogado defende que qualquer decisão "depende de questões políticas paralelas" e lembrou que estamos perante duas confederações diferentes: A UEFA, onde está Israel, e a confederação asiática, da qual a Palestina faz parte. "Aqui também é importante que todos estejam de mãos dadas relativamente às decisões que tenham de tomar", esclareceu.

Diogo Soares Loureiro é da opinião que a UEFA esteve bem ao adiar os próximos jogos da seleção israelita, de uma medida "mais provisória para evitar outro tipo de consequências".

Caso o conflito se prolongue no tempo, pode-se assistir a uma situação idêntica ao que já se viu entre a Rússia e a Ucrânia: "Se Israel for visto como vítima não há qualquer sanção, mas se for visto como agressor, poderão haver sanções", admitiu, lembrando, no entanto,  que, segundo os estatutos da FIFA, não se deve sancionar uma federação pelos comportamentos de um governo.

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Israel tem neste momento uma seleção com hipóteses para se apurar para o Euro 2024. Está no grupo I em terceiro lugar atrás da Roménia e da Suíça e à frente da Bielorrússia, Kosovo e Andorra. No que respeita aos clubes, o Maccabi Haifa está na fase de grupos da Liga Europa e o Maccabi Tel Aviv na Liga Conferência. No que respeita a possíveis sanções, Diogo Soares Loureiro acredita que os israelistas estão numa posição mais próxima da Ucrânia: "Neste momento, eu diria que a situação de Israel estará mais próxima da Ucrânia do que da Rússia", argumentou.

E prosseguiu: "No caso da Ucrânia, puderam continuar a participar [nas competições], porque foram vistos como vítimas e os ataques que fizeram à Rússia foi em legítima defesa." Neste caso, a UEFA e a FIFA podem assumir que a Palestina teve a iniciativa (devido aos primeiros ataques do Hamas).

De qualquer forma, o advogado lembrou que "estamos numa fase precoce e não se sabe as consequências a médio-longo prazo".

No caso da participação de equipas israelitas nas competições europeias de clubes, Diogo Soares Loureiro admite que é uma questão mais sensível: "Pode-lhes acontecer o mesmo que acontece agora com o Shakhtar. Se o conflito ditar o fim do campeonato [israelita], ou faz-se uma suspensão das equipas ou tenta-se que joguem noutro país".

Complicada é também a situação de muitos jogadores estrangeiros que podem ser forçados a abandonar Israel devido ao conflito. O especialista em direito do desporto espera que seja dado o apoio devido aos atletas e não descarta que seja aplicada uma medida extraordinária no que respeita às transferências, tal como aconteceu com a Ucrânia: "Eu acho que faz todo o sentido, porque a [FIFA] pode ser acusada de dualidade de critérios. Estamos a falar de um conflito armado, os jogadores têm lá as suas famílias e querem colocar toda a gente em segurança". Recorde-se que há cinco jogadores portugueses a atuar em Israel e apenas um ainda não chegou a Portugal.

Um tema que pode voltar à ordem do dia são as cinco equipas que disputam as competições de Israel e que estão sediadas no território da... Palestina.  Os dois países têm esgrimido argumentos na FIFA, organismo máximo do futebol mundial, com queixas de parte a parte. Em maio de 2017, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) criticou a FIFA pela decisão do organismo de adiar a votação do relatório que pedia a suspensão das equipas israelitas e acusou o organismo de ceder a pressões políticas.

Na base do pedido da Palestina estava o facto do Maalé Admim, Ariel, Oranit, Bikat Hayarden e Givat Zveev, sediadas em território palestiniano competirem na liga israelita, algo que viola o artigo 72 dos estatutos da FIFA, que estabelece que "as associações membro e os seus clubes não podem jogar no território de outra associação membro sem a sua aprovação".

"É uma das questões que me causa alguma estranheza não ser resolvido com mais clareza. É uma situação um pouco exdruxula, porque a FIFA reconhece a Palestina como um território, mas depois permite que equipas que estejam sediadas nessa região estejam a participar num campeonato de outro país.", concluiu.