O secretário de Estado da Juventude e do Desporto disse hoje que a vontade política de delinear uma estratégia para o desporto “é grande” e “mais [importante] do que corrigir uma trajetória” que tem vindo a ser seguida.
João Paulo Correia falou no encerramento do Congresso Nacional do Desporto, organizado pela Confederação do Desporto de Portugal (CDP) e realizado no Fórum Lisboa, onde advertiu, no entanto, que “não é ainda este o momento para fechar essa estratégia”.
“Sim, precisamos de uma estratégia. Sim, este foi um congresso fundamental para o início do debate. Todos somos importantes para contribuir para essa estratégia. A vontade política é grande, mais [importante] do que corrigir uma trajetória é preciso ter uma estratégia”, disse João Paulo Correia no final da sua intervenção.
Antes, o secretário de Estado da Juventude e do Desporto (SEJD) considerou que o congresso foi importante para “dar o pontapé de saída” para uma “reflexão” que resulte numa “estratégia global para o desporto em todas as suas componentes”, balizando esse objetivo para “um horizonte que coincida com o próximo ciclo olímpico, 2024-28”.
“Para sabermos antecipadamente durante o debate, nas conversas e nas reflexões que vamos fazendo neste ano e no próximo, aquilo que queremos para o desporto nacional no próximo ciclo olímpico”, justificou o SEJD.
O desporto, destacou João Paulo Correia, tem hoje um “valor intrínseco no dia-a-dia e na atividade económica”, que ficou mais evidente nos últimos dois anos, em consequência da pandemia de covid-19.
Nesse sentido, afirmou que a estratégia a delinear tem de considerar “o valor social do desporto”, mas também “o valor reputacional”, a “força diplomática”, o “desporto não federado”, o atingir de metas de “igualdade de género”, sem esquecer “a inclusão, o desporto adaptado” e aquilo que representam “os municípios”.
“Foi um dos setores que criou emprego nos anos da pandemia. O número total de empresas cresceu em 2020, em 2021 e provavelmente irá crescer em 2022. Portanto, o desporto é um setor que funcionou em contraciclo em relação ao impacto da pandemia na nossa atividade económica”, destacou o governante.
As exportações do setor “quase duplicaram entre 2016 e 2022”, além de ser “um dos setores com maior capacidade de empregabilidade jovem e qualificada”, com uma dinâmica que se reflete, também, de outras formas na sociedade.
“O desporto também tem valor reputacional. A reputação de um país, de uma região, muitas vezes faz-se através do desporto. Por isso é um valor que tem de estar dentro desta estratégia, perceber o caminho e também uma métrica que nos permita quantificar o valor reputacional e o retorno que dá aos outros setores e à atividade económica”, delineou.
Sem se deter, lembrou a força diplomática do setor que “foi o primeiro a aplicar sanções à Rússia a partir do momento em que esta invadiu a Ucrânia”, antes de virar a ‘agulha’ para metas relacionadas com a igualdade de género, a inclusão e o desporto adaptado.
“A estratégia também tem de ter como objetivo a igualdade de género. [Nesse aspeto], Portugal está na cauda da Europa no que diz respeito ao dirigismo, aos média, às equipas técnicas, às direções, presidências e vice-presidências. Portanto, qualquer estratégia para o desporto tem, também, de incorporar a igualdade de género como meta de curto e médio prazo”, traçou.
Por fim, defendeu ainda um “financiamento mais previsível e consolidado para que as as organizações consigam preparar os atletas de forma antecipada e previsível, para que os resultados possam ser melhores” e encerrou a lembrar que o apoio das Câmaras Municipais “represente dois terços do financiamento público ao desporto”.
“Não se pode falar de financiamento ao desporto ignorando o apoio que os municípios lhe dão. Não podemos falar do futuro e de uma estratégia para o desporto sem envolver e comprometer politicamente os municípios”, concluiu João Paulo Correia.
O SEJD, de resto, assentou uma boa parte da sua intervenção no resumo das conclusões alcançadas no decorrer do Congresso Nacional do Desporto, elencadas pela diretora da Confederação do Desporto de Portugal, Filipa Godinho.
A dirigente frisou que “o financiamento público” é hoje “ainda mais imprescindível para a retoma do setor” e lembrou que, “no plano financeiro”, o desporto português conta com “praticamente um terço da média de financiamento dos restantes países”, uma situação que “compromete o desenvolvimento desportivo e a obtenção de mais medalhas”.
“Atualmente, o desporto português apresenta menos de metade dos resultados desportivos na média dos países com dimensão semelhante à nossa, quer em termos de resultados ou mesmo de desenvolvimento desportivo”, exemplificou Filipa Godinho.
A finalizar, a diretora da CDP lembrou que “em termos fiscais, o setor é sobre penalizado em relação a setores equivalentes”, nomeadamente “nas questões de IVA e do mecenato desportivo”, apesar de, a par do turismo, ser um dos que “mais pessoas mobilizam para fora das suas áreas de residência”.
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