“Eu, ao contrário das [outras] pessoas, não acho que a hegemonia de um clube seja um mau indicador de evolução. Por vezes é a ideia que dá, não é? Parece que os outros não conseguem acompanhar. Mas não é a realidade, porque o Benfica teve de trabalhar muito e muito melhor para continuar a ser campeão”, atirou a treinadora, em entrevista à agência Lusa, no Seixal.
Nesse sentido, comentou, “se não tivéssemos um Benfica tão bem”, o clube poderia até “não ter esta hegemonia”, mas a Liga feminina ser nivelada “por baixo”.
Por isso, os outros clubes “têm tentado e conseguido acompanhar”, uma vez que “todos os anos” obrigam as ‘encarnadas’ a serem “muito, muito melhores” para continuarem a ganhar e “isso é um bom sinal”.
“Ou seja, nós estamos a nivelar as coisas por cima”, concluiu a treinadora que, na semana passada, foi nomeada para o prémio de melhor treinadora de futebol feminino a nível internacional a atribuir na gala da Bola de Ouro, em 28 de outubro.
Na última época, de resto, a Liga feminina foi disputada até à última jornada e decidida com uma grande penalidade no período de descontos do encontro das ‘encarnadas’ com o Racing Power (2-1), enquanto o ‘vice’ Sporting vencia o Damaiense (1-0), ficando a dois pontos das tetracampeãs.
No entanto, a treinadora lembrou que “todos os campeonatos têm uma história” e que a desse foi que “o Benfica esteve com alguns pontos de vantagem e acabou por ter jogos complicados em momentos complicados”.
Como frente ao Damaiense, por exemplo, em que foi “jogar num [relvado] sintético entre dois jogos com o Lyon, dos quartos de final da ‘Champions’”, competição em que muitas jogadoras estavam “pela primeira vez”.
“Mas sem dúvida nenhuma que o campeonato foi mais competitivo, não podemos dizer que não, e obrigou-nos a lutar até ao final”, reconheceu a treinadora.
Este ano, além de Sporting e Racing Power, que “fez um excelente campeonato”, há ainda “um Damaiense e um Torreense a mostrar que estão a apostar muito bem” e que “vão ser provavelmente “as equipas sensação” da Liga feminina.
“Isto deixa-me muito feliz. Quanto mais equipas nos obrigarem a estar ali até à última a disputar, é sinal de competitividade, de crescimento”, elogiou a técnica.
Nesse sentido, a treinadora enalteceu também a importância da chegada do FC Porto ao futebol feminino, onde se estreia esta época na III Divisão, tal como “todas as equipas que queriam investir no futebol feminino”.
“O FC Porto é bem-vindo, todas as equipas são bem-vindas. Conheço ‘ene’ equipas que estão na nossa divisão principal masculina que não têm futebol feminino e estão, desde já, convidadas a ter”, desafiou.
Nesse sentido, questionada sobre a falta de condições que alguns dos clubes que têm sido mediatizadas após queixas de outras equipas, Filipa Patão assegurou que esse “é um problema cultural” e não exclusivamente do futebol feminino.
A treinadora do Benfica garante que há “falta de infraestruturas [desportivas] em Portugal” e que há mesmo “inúmeras equipas da II Liga e até mesmo da I Liga” masculinas” que não têm as melhores condições”.
“Portanto, isto é um problema cultural do país, que a Federação [Portuguesa de Futebol] tem de olhar, que os clubes têm de olhar, que todas as entidades têm de olhar e melhorar as condições de infraestruturas do nosso país, ponto! Não é um problema do feminino, é um problema do futebol”, apontou a treinadora.
Designada em dezembro de 2020 como sucessora de Luís Andrade, Filipa Patão venceu quatro campeonatos, uma Taça de Portugal, duas Supertaças e quatro Taças da Liga no comando técnico do Benfica, mas conseguiu arrebatar pela primeira vez as quatro provas nacionais em simultâneo em 2023/24.
As 'águias' terminaram a Liga feminina na primeira posição, com 56 pontos, dois acima do Sporting, que derrotaram nas decisões da Supertaça (3-0 no desempate por grandes penalidades, após empate 1-1 no final do prolongamento), em Aveiro, e da Taça da Liga (1-0), em Lisboa, numa temporada encerrada com a conquista da Taça de Portugal frente ao Racing Power (4-1), no Estádio Nacional, em Oeiras.
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