O primeiro grande banho de multidão no Rali de Portugal acontece, tradicionalmente, no dia inaugural da prova, na superespecial no circuito de Lousada, num momento que os pilotos classificam de "arrepiante".
A edição deste ano da competição, que estará na estrada entre 30 de maio e 2 de junho, volta a ter encontro marcado com esta emblemática pista da Costilha, um traçado com pouco mais três quilómetros, onde mais do que pela dificuldade técnica do percurso deslumbra pela moldura humana nas bancadas.
"É indescritível. Até o piloto mais frio fica arrepiado ao sentir o ambiente desse dia. O percurso é curto, mas técnico, onde o essencial é divertirmo-nos e dar um bom espetáculo, embora tendo consciência que é uma etapa onde não se vai ganhar o rali, mas onde podemos perdê-lo", partilhou com a agência Lusa o experiente piloto José Pedro Fontes.
Das várias vezes que teve oportunidade de viver "a experiência Lousada", o piloto, de 43 anos, que atualmente compete no nacional de ralis ao volante de um Citroen, destacou também as emoções da viagem até ao circuito.
"Vemos as bermas das estradas cheias e as pessoas até em cima das pontes a saudar-nos. É algo que lembra aquelas grandes finais onde participou a seleção de futebol. Depois, já dentro do circuito, o ambiente é como num estádio, em que mesmo dentro do carro conseguimos sentir a multidão", recordou José Pedro Fontes.
Essa conexão com os aficionados da modalidade foi também destacada por Diogo Gago, um piloto de 27 anos, vice-campeão da edição de 2018 da Peugeot Rally Cup Ibérica, que, mesmo sendo de uma diferente geração, tem também o circuito de Lousada no seu imaginário.
"É um ambiente esmagador. É impossível, mesmo dentro do carro, não reparar na quantidade de pessoas. Só dá vontade de desfrutar e dar espetáculo, mas, ao mesmo tempo, querer ser o mais rápido", disse o jovem piloto.
Apontando que que em muitas das etapas do Rali de Portugal, e inclusivamente nesta superespecial em Lousada, "há mais pessoas a assistir do que em alguns grandes jogos de futebol", Diogo Gago reconhece que, visto na televisão, o espetáculo é ainda mais impactante.
"Quando estamos dentro do carro passa tudo muito rápido, até porque estamos focados na condução, mas quando vemos, depois, as filmagens e percebemos aquela envolvência dá vontade de repetir a experiência para captar mais sensações", partilhou Diogo Gago.
Mesmo sem a tal essência do público nas bancadas, a agência Lusa 'sentiu' um pouco do espírito do circuito de Lousada, dentro de um Peugeot 208 R2, um dos carros que estará presente nesta edição do Rali de Portugal.
Ao volante esteve o espanhol Roberto Blach, vencedor da edição do ano passado do troféu ibérico da marca francesa, que conduziu o 208 R2, com mais de 180 cv, a um ritmo competitivo, entre as curvas apertadas do percurso.
Tal como descreveu Diogo Gago, a experiência esgota-se a um ritmo alucinante, pois o carro supera com invulgar fluidez as transições, quase impercetíveis, entre as partes de terra batida e asfalto.
Nas curtas retas, a velocidade de aceleração encosta qualquer ocupante ao banco, com o corpo, mesmo 'amarrado' com um cinto de segurança reforçado, a fazer um movimento inverso sempre que os travões do 208 são chamados à intervir para definir a trajetória.
Mas é, sem dúvida, nas curvas mais longas que a essência da pista da Costilha sobressai, permitindo, nas partes amplas, que o carro deslize com uma surpreendente elegância, fazendo esquecer todos desconfortos de uma máquina com alma de competição, de espaço exíguo, onde o ligeiro cheiro a gasolina no habitáculo torna a experiência ainda mais inebriante.
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